Cerca de 16 estudante receberam o diploma no Colégio Estadual Indígena Karai Kuery Renda. Aldeia Sapukai celebra formatura da primeira turma de magistério em Angra dos Reis
A Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis (RJ), celebrou a formatura da primeira turma de magistério indígena no estado do Rio de Janeiro. Ao todo, 16 indígenas Guarani Mbyá concluíram o curso na última quinta-feira (10), no Colégio Estadual Indígena Karai Kuery Renda.
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A formação, voltada à preparação de professores indígenas para atuar em escolas das próprias comunidades, marca um avanço importante na educação intercultural no estado.
“Vamos comemorar a primeira turma, depois de 20 anos, conseguimos aqui no Estado do Rio de Janeiro, que é difícil, mas conseguimos formar os meninos para ser professores”, conta o cacique da Aldeia Sapukai, Algemiro da Silva.
A turma iniciou os estudos em 2018 e, após interrupções causadas pela pandemia da Covid-19, concluiu agora o ensino médio profissionalizante.
Os estudantes têm entre 20 e 40 anos e, ao longo da formação, participaram de aulas em português e em Guarani Mbyá, ministradas por professores indígenas e não indígenas, que os guaranis chamam de “juruás”.
“A gente está falando de um colégio plurilíngue, a primeira língua é o Guarani, e aqui o que nós fazemos é a transposição do Guarani para o português, porque fundamental I, pela Lei Federal, obrigatoriamente, é o professor indígena. Então, esse marco que está acontecendo hoje, essa formação que está acontecendo hoje, eu até brinco, eu estou perdendo 16 alunos, mas estou ganhando 16 colegas de profissão”, disse o diretor do Colégio Estadual Indígena Karai Kuery Renda, Domingos de Oliveira.
A unidade atende cerca de 180 estudantes do ensino fundamental, do magistério regular e do magistério indígena, em uma estrutura que passou recentemente por obras de reforma e ampliação.
“A gente tinha que sair da aldeia para estudar lá fora, enfrentar as dificuldades muito grandes que a gente encontra durante essa caminhada”, conta o aluno formado na turma de magistério, Cláudio Benides.
Em 2025, o colégio passou a oferecer também o ensino médio regular, atendendo a uma antiga demanda da comunidade, que evita deixar o território para concluir a escolarização formal.
Segundo a secretária de educação de Angra dos Reis, Tânia Borges, o “comprometimento de todos e, principalmente, do Cacique e toda a comunidade dos povos originários, tornaram esse momento importante. E nós, em conjunto, conseguimos construir ferramentas através das tecnologias, que tornaram esse momento de hoje possível”.
Além do Colégio Karai Kuery Renda, em Angra dos Reis, o estado conta com apenas mais uma escola indígena estadual, o Colégio Indígena Tava Mirim, em Paraty (RJ). As duas instituições são referências na luta por uma educação escolar que respeita os saberes e os direitos dos povos originários, com currículo adaptado às realidades linguísticas, culturais e territoriais de seus alunos.
Conheça a Aldeia Sapukai
Casa de reza da aldeia Sapukai, a maior do estado do Rio de Janeiro
Divulgação/Prefeitura de Angra dos Reis
Localizada a cerca de seis quilômetros da BR-101 (Rodovia Rio-Santos), no bairro Bracuí, a Aldeia Sapukai é a única aldeia indígena de Angra dos Reis e a maior do estado do Rio de Janeiro. Segundo o Censo 2022, do IBGE, vivem ali 339 indígenas Guarani Mbyá, que ocupam uma área de 2.200 hectares cercada pela Mata Atlântica.
A aldeia surgiu do processo migratório de guaranis vindos do sul do Brasil na década de 1950, motivados por razões espirituais. A busca pela “Terra sem Mal”, um lugar sagrado e ideal, moveu os deslocamentos dessa etnia, que passou a ocupar áreas no estado do Rio.
A luta pela demarcação do território teve início nos anos 1980 e só foi concluída em 1994, após resistência dos indígenas, que chegaram a confrontar fazendeiros e posseiros da região. Desde então, o território tradicional foi reconhecido oficialmente, com sua própria dinâmica cultural, religiosa e educacional.
Na vida cotidiana, os guaranis cultivam a agricultura de subsistência com mandioca, batata-doce e cana-de-açúcar, apesar das limitações do solo local. A venda de artesanato ao longo da rodovia complementa a renda. A espiritualidade é preservada na casa de reza, onde acontecem cerimônias e rituais tradicionais. Jovens da comunidade integram o coral Nhamandu, que leva a música guarani para fora da aldeia.
Artesanato produzido pela Aldeia Sapukai
Divulgação/Prefeitura de Angra dos Reis
Nos últimos anos, a Sapukai teve importantes conquistas estruturais, como a chegada da energia elétrica em 2006, a construção de um posto de saúde em 2022 e a instalação de internet. Para os guaranis, essas mudanças não representam a perda de identidade, mas sim a incorporação de novas ferramentas à luta por autonomia e preservação cultural.
A educação tem papel central nesse processo. Desde os anos 1990, a aldeia investe na construção de uma escola própria, inicialmente erguida com esforço da própria comunidade. Em 2003, o colégio foi estadualizado e hoje é referência em educação indígena no estado, consolidando-se como espaço de formação, resistência e fortalecimento da cultura guarani.
Crianças da Aldeia Sapukai, a única de Angra dos Reis
Divulgação/Prefeitura de Angra dos Reis
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Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, celebra formatura da primeira turma de magistério indígena no RJ
Cerca de 16 estudante receberam o diploma no Colégio Estadual Indígena Karai Kuery Renda. Aldeia Sapukai celebra formatura da primeira turma de magistério em Angra